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| Esta imagem composta do planeta Vênus coberto de nuvens usa dados da sonda japonesa Akatsuki. |
A atmosfera do quente planeta Vênus é severa e espessa. Os gases atmosféricos dióxido de carbono e ácido sulfúrico circulam em camadas de nuvens de acordo com padrões que os cientistas não entendem completamente. E as nuvens venusianas também contêm manchas escuras e estranhas, apelidadas de "absorvedores desconhecidos" porque absorvem grandes quantidades de radiação solar.
Ninguém ainda conseguiu determinar quais são essas manchas escuras, mas os cientistas especulam que elas podem ser formadas por enxofre, cloreto férrico ou até vida microscópica.
Agora, uma equipe de cientistas liderada por Yeon Joo Lee, pesquisadora do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade Técnica de Berlim, mostrou que os absorvedores desconhecidos estão afetando o clima de Vênus.
Em Vênus, assim como na Terra, a energia que impulsiona os ventos da atmosfera vem do Sol. Ao estudar por mais de uma década os dados das sondas Venus Express, Akatsuki e Messenger e do Telescópio Espacial Hubble, os pesquisadores descobriram uma relação entre as nuvens de Vênus e seus ventos. As nuvens absorvem a radiação solar, que causa mudanças de temperatura que afetam os padrões de vento. Os absorvedores desconhecidos parecem desempenhar um papel nesse processo, afetando o albedo do planeta, ou seja, quanta energia solar é refletida de volta ao espaço.
"É difícil conceber o que causaria uma mudança no albedo sem uma mudança nos absorvedores", disse Sanjay Limaye, cientista planetário da Universidade de Wisconsin-Madison e co-autor do artigo.
Em parte porque é difícil explicar as mudanças inorgânicas dos absorvedores, Limaye explorou a possibilidade de que eles possam ser microorganismos. Ele está em boa companhia. A idéia de vida na atmosfera venusiana remonta a um artigo de 1963, em co-autoria com Carl Sagan.
Limaye observou que as partículas que compõem as manchas escuras nas nuvens de Vênus se assemelham a microorganismos na atmosfera da Terra. "Como existem poucas espécies que possuem propriedades físicas, químicas e espectrais que são consistentes com a composição das nuvens de Vênus, elas podem ter evoluído independentemente em Vênus".
Ele apontou para a possibilidade de que a água líquida tenha sobrevivido em Vênus por até dois bilhões de anos, ao mesmo tempo que os vulcões entraram em erupção e as fontes hidrotermais jorravam água quente. "Se condições semelhantes em outros lugares levaram à evolução da vida, por que não em Vênus?", disse Limaye. Mas a explicação extraterrestre permanece apenas uma possibilidade.
Emilie Royer, cientista do Instituto de Ciências Planetárias que não participou do estudo, disse que nenhuma teoria proposta sobre os absorvedores ainda os explicou completamente. "Esse novo resultado é muito importante, porque todas as informações que obtivermos dos níveis atmosféricos das nuvens superiores e acima ajudarão a resolver o enigma da misteriosa atmosfera do planeta", diz ela.
Lee disse que ainda não se sabe se as variações climáticas de Vênus estão sendo impulsionadas por uma fonte interna, como gás dióxido sulfúrico vindo da superfície, ou uma fonte externa, como um ciclo de atividade solar.
Para desvendar ainda mais os mistérios do clima venusiano, diz Limaye, os cientistas precisarão de monitoramento constante e sistemático da cobertura de nuvens do planeta ao longo de vários ciclos solares de 11 anos. Ele também sugere plataformas aéreas que possam analisar a camada de nuvens de Vênus, procurar bioassinaturas e fazer outras medições. "Compreender a natureza dos absorvedores em Vênus é a chave", diz ele.
Fonte: Astronomy
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