Gaia Detecta um Tremor na Via Láctea

Novos dados do Gaia parecem mostrar um grande distúrbio gravitacional na Via Láctea, ocorrido entre de 300 e 900 milhões de anos

Análises dos dados coletados pelo satélite Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA), permitiu concluir que o disco de nossa galáxia sofreu um importante distúrbio gravitacional ocorrido entre 300 e 900 milhões de anos atrás. "Esta é uma das grandes primeiras descobertas da "Arqueologia Galáctica" após a publicação do segundo pacote de dados do Gaia que devem permitir aos pesquisadores descobrir as origens e a evolução da Via Láctea", diz Teresa Antoja, pesquisadora do ICCUB (IEEC-UB) e primeira signatária do artigo.
O que causou esse distúrbio? Para responder a essa pergunta, os pesquisadores compararam a estrutura e o nível de torção da espiral com modelos da dinâmica da galáxia. Como os pesquisadores notaram, isso permitiu que eles formulassem a hipótese de que a perturbação foi causada pela galáxia anã de Sagitário passando perto do disco da Via Láctea. "O estudo implica, definitivamente, que o disco da nossa galáxia é dinamicamente jovem, sensível a perturbações e mudanças ao longo do tempo", diz Antoja.
"Uma das formas mais distintas que vimos - continua a pesquisadora - é o padrão espiral das estrelas perto do Sol, e que nunca havia sido visto antes. Na verdade, as formas observadas nos gráficos eram tão claras (ao contrário dos casos comuns), que pensamos que poderia ser um erro nos dados".
Neste sentido, mais de uma centena de engenheiros e cientistas europeus, dentre os quais a UB desempenhou um papel destacado, trabalhando durante meses nas tarefas de verificação e validação dos dados do Gaia. Como parte dessa tarefa, Merce Romero Gomez, pesquisadora da UB, diz que "com as simulações realizadas na UB, também poderíamos reproduzir as espirais observadas".
Como quando uma pedra cai em um lago e cria ondas que se espalham na superfície, ou quando um ímã se aproxima de pedaços de ferro e estes são alinhados em uma determinada direção, as estrelas no disco galáctico se ordenaram de certa forma após o atração gravitacional da galáxia satélite que passou ao lado delas. Depois de algum tempo, as estrelas mantiveram os efeitos da perturbação que os abalou em seus movimentos, e agora uma espiral pode ser vista nos gráficos.
De acordo com Amina Helmi, pesquisadora da Universidade de Groningen, "sabemos que nossa galáxia é "canibal" e cresceu enquanto engolia outras pequenas galáxias, como está fazendo agora com a galáxia anã de Sagitário". No entanto, a especialista observa que "a massa de Sagitário ainda é grande o suficiente para causar um notável impacto gravitacional". O que vemos agora não corresponde a uma colisão entre galáxias, mas galáxia anã se aproximando do nosso disco galáctico.

Primeiros resultados do novo pacote de dados do Gaia

O segundo pacote de dados analisado ​​neste estudo, foi publicado há alguns meses, em 25 de abril de 2018. "Os cientistas e engenheiros da UB tiveram um papel essencial em tornar esses dados uma realidade", diz Xavier Luri, diretor do ICCUB e coordenador da equipe que construiu o arquivo do Gaia.
O esforço de mais de quatrocentos cientistas e engenheiros permitiu a publicação de posições e movimentos precisos para mais de 1,3 bilhões de objetos. Este segundo catálogo obteve os primeiros dados espectroscópicos de alguns milhões de estrelas no entorno solar, que permitem aos pesquisadores medir a velocidade das estrelas em nossa linha de visão e obter, portanto , as três coordenadas de velocidade das estrelas. Esses dados permitiram a descoberta que agora foi publicada na Nature.
Até hoje, o satélite Gaia recolheu dados em mais de 48 meses de operações e a ESA aprovou o prolongamento da missão até ao final de 2020. A ESA está agora a avaliar um segundo prolongamento de dois anos.
Segundo Carme Jordi, investigadora da UB e membro do Gaia Science Team, o órgão consultivo científico da ESA para esta missão, "tudo indica que esta é apenas uma das primeiras descobertas de uma vasta série de novas descobertas - e surpresas - escondidas em dados do Gaia que foram publicados em abril: a ponta do iceberg no estudo das origens e da evolução da galáxia em que vivemos".

Fonte: Space Daily via Universidade de Barcelona

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