Missão NICER Encontra um Pulsar de Raios X em uma Recorde Órbita Ultra Rápida

Os cientistas que analisaram os primeiros dados da missão do Explorador da Composição Interna das Estrelas de Nêutrons (NICER, na sigla em inglês), encontraram duas estrelas que giram em torno de si a cada 38 minutos. Uma das estrelas do sistema, chamada IGR J17062–6143 (J17062, para abreviar), é uma estrela superdensa, de rápida rotação chamada pulsar. A descoberta confere ao par estelar o registro do período orbital mais curto para uma determinada classe de sistema binário de pulsares.
Os dados do NICER também mostram que as estrelas do J17062 estão a apenas 300.000 quilômetros de distância uma da outra, menos do que a distância entre a Terra e a Lua.  Com base no período orbital e na separação da dupla, cientistas envolvidos em um novo estudo do sistema acham que a segunda estrela é uma anã branca pobre em hidrogênio.
"Não é possível para uma estrela rica em hidrogênio, como o nosso sol, ser a companheira do pulsar", disse Tod Strohmayer, astrofísico da Goddard e principal autor do estudo. "Você não pode adequar uma estrela como essa em uma órbita tão pequena".
Uma observação prévia de 20 minutos feita pelo Observatório de Raios-X RXTE (Rossi X-ray Timing Explorer) em 2008 só conseguiu estabelecer um limite inferior para o período orbital de J17062. O NICER, que foi instalado a bordo da Estação Espacial Internacional em junho passado, pôde observar o sistema por períodos muito mais longos. Em agosto, o instrumento se concentrou no J17062 por mais de sete horas durante 5,3 dias. Combinando observações adicionais em outubro e novembro, a equipe de cientistas foi capaz de confirmar o período orbital recorde para um sistema binário contendo o que os astrônomos chamam de um pulsar de raios X de milissegundos (AMXP, na sigla em inglês).
Quando uma estrela massiva se transforma em supernova, seu núcleo colapsa em um buraco negro ou uma estrela de nêutrons, que é pequena e superdensa - do tamanho de uma cidade, mas contendo mais massa do que o Sol. As estrelas de nêutrons são tão quentes que a luz que elas irradiam passa do vermelho ao branco e ao UV, e entra na porção de raios-X do espectro eletromagnético. Um pulsar é uma estrela de nêutrons que gira rapidamente.
A observação do J17062 pelo RXTE, em 2008, encontrou pulsos de raios X recorrentes 163 vezes por segundo. Esses pulsos marcam a localização de pontos quentes ao redor dos polos magnéticos do pulsar, permitindo que os astrônomos determinem o quão rápido ele está girando. O pulsar do J17062 está girando a cerca de 9.800 rotações por minuto.
Pontos quentes se formam quando o intenso campo gravitacional de uma estrela de nêutrons retira material de uma companheira estelar - em J17062, da anã branca - onde ela é coletada em um disco de acreção. A matéria no disco espirala para dentro, acabando por chegar à superfície. As estrelas de nêutrons têm fortes campos magnéticos, de modo que o material chega a sua superfície de maneira desigual, viajando ao longo do campo magnético até os polos magnéticos, onde cria pontos quentes.
A constante barragem de gás em queda faz com que os pulsares de acresção girem mais rapidamente. Enquanto giram, os pontos quentes entram e saem da vista dos instrumentos de raios X, como o NICER, que registram as flutuações. Alguns pulsares giram mais de 700 vezes por segundo, comparáveis ​​às lâminas de um liquidificador de cozinha. Flutuações de raios X de pulsares são tão previsíveis que o explorador NICER já mostrou que eles podem servir como faróis para navegação autônoma em futuras espaçonaves.
Com o tempo, o material da estrela doadora se acumula na superfície da estrela de nêutrons até o ponto em que seus átomos se fundem, ocorrendo uma reação termonuclear descontrolada, liberando a energia equivalente a 100 bombas de 15 megatons que explodem sobre cada centímetro quadrado, explicou Strohmayer. Raios-X de tais explosões também podem ser capturados pelo NICER, embora ainda não tenha sido observado a partir de J17062.
Os pesquisadores foram capazes de determinar que as estrelas do J17062 giram em torno de si em uma órbita circular, o que é comum para os AMXPs. A estrela doadora anã branca é tem apenas cerca de 1,5% da massa do nosso sol enquanto o pulsar tem em torno de 1,4 massa solar, o que significa que as estrelas orbitam um centro de massa a cerca de 3 mil quilômetros do pulsar. Strohmayer disse que é quase como se a estrela doadora orbitasse um pulsar estacionário, mas NICER é sensível o suficiente para detectar uma pequena flutuação na emissão de raios-X do pulsar devido ao puxão da estrela doadora.
"A distância entre nós e o pulsar não é constante", disse Strohmayer. "Está variando por causa deste movimento orbital. Quando o pulsar está mais próximo, a emissão de raios X leva um pouco menos de tempo para chegar até nós do que quando está mais distante. Este atraso é pequeno, apenas cerca de 8 milissegundos para a órbita do J17062, mas está bem dentro das capacidades de um observador de pulsar sensível como o NICER."

Fonte: NASA

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